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Preço do petróleo dispara após ataques dos EUA ao Irã

Ataque a instalações nucleares iranianas gera reação nos mercados e ameaça estabilidade no Oriente Médio; petróleo Brent atinge maior valor em cinco meses e analistas projetam inflação global

Por: Redação
23/06/2025 às 12h00
Preço do petróleo dispara após ataques dos EUA ao Irã

Os mercados globais de energia entraram em estado de alerta neste domingo (22), após os Estados Unidos bombardearem instalações nucleares no Irã. O ataque, sem precedentes recentes, impulsionou os preços do petróleo para o maior patamar em cinco meses e elevou as tensões geopolíticas no Oriente Médio, uma das regiões mais sensíveis do planeta no que diz respeito ao abastecimento energético.

O barril do petróleo Brent, referência internacional, chegou a subir 5,7% nas primeiras horas de negociação em Londres, atingindo US$ 80, antes de recuar para uma alta de cerca de 3%, cotado a US$ 79. O West Texas Intermediate, índice norte-americano, também registrou valorização semelhante, sendo negociado a US$ 76,83.

Analistas alertam que a tendência para os próximos dias dependerá da resposta do Irã. O país, já envolvido em conflitos indiretos com Israel e outras potências regionais, prometeu retaliar caso os EUA se envolvessem diretamente na guerra. Agora, com a entrada efetiva dos americanos, especialistas temem ataques a infraestruturas petrolíferas ou a embarcações comerciais no estratégico estreito de Hormuz.

“Uma clara linha vermelha foi cruzada”, afirmou Jorge León, chefe de análise geopolítica da consultoria Rystad Energy. “Este é o primeiro ataque direto dos EUA ao território iraniano. A depender da resposta, podemos ver o petróleo ultrapassando os US$ 100 ainda neste trimestre.”

Cerca de 30% do petróleo transportado por via marítima passa diariamente pelo estreito de Hormuz, que separa o Irã dos estados do Golfo Pérsico. Qualquer interrupção nesse fluxo representa um risco imediato ao abastecimento global de energia e à estabilidade econômica de diversos países importadores.

Retaliação e escalada de tensão

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que “novos ataques serão inevitáveis” caso Teerã não recue, mas o governo iraniano tem adotado um tom firme. Líderes religiosos e militares iranianos já sinalizaram uma possível ofensiva contra navios americanos e aliados no Golfo.

O editor-chefe do jornal iraniano Kayhan, com forte influência dentro do regime, chegou a defender publicamente que o Irã bloqueie o estreito de Hormuz e impeça a circulação de navios ocidentais. Analistas, no entanto, avaliam que o fechamento total da via é improvável, devido à presença da Quinta Frota Naval dos EUA no Bahrein.

Ainda assim, segundo Helima Croft, ex-analista da CIA e atual estrategista da RBC Capital Markets, o Irã dispõe de capacidade militar para danificar navios petroleiros e portos estratégicos usando mísseis e minas marítimas. “Mesmo sem um bloqueio total, ações pontuais já seriam suficientes para causar impactos severos nos preços da energia”, explicou.

O Irã exporta atualmente cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia. Entretanto, aproximadamente 21 milhões de barris provenientes de seis países — incluindo Arábia Saudita, Iraque e Emirados Árabes Unidos — atravessam diariamente o estreito de Hormuz. A interdição dessa rota poderia desencadear uma nova crise energética mundial.

Impactos econômicos globais

Os efeitos da escalada vão além do setor energético. A alta do petróleo pressiona os preços de combustíveis como gasolina e diesel, elevando os custos de transporte e produção em cadeia, o que pode reacender o fantasma da inflação global. Economistas já projetam efeitos indiretos no consumo, nos juros e no crescimento econômico.

“A entrada dos EUA adicionou uma camada extra de volatilidade aos mercados de energia. Todos estão de olho no próximo movimento do Irã”, afirmou León, da Rystad.

O Ministério das Relações Exteriores do Qatar divulgou nota alertando que a “tensão perigosa” pode resultar em “repercussões catastróficas para a segurança regional e global”. Já a Arábia Saudita, aliada dos EUA e principal exportadora mundial de petróleo, declarou estar acompanhando os desdobramentos com “grande preocupação”.

Segundo analistas da S&P Global Commodity Insights, o impacto imediato nos preços pode ser contido caso o Irã adote uma estratégia mais cautelosa e não haja retaliação imediata. “A pergunta-chave agora é: o que vem a seguir?”, disseram James Bambino e Richard Joswick, da S&P. “O Irã recorrerá a ataques diretos? Interromperá suas exportações? Visará navios no estreito?”.

Ainda que estoques globais e a capacidade de resposta da Opep+ ajudem a mitigar uma crise de abastecimento a curto prazo, os especialistas alertam que um conflito prolongado no Oriente Médio trará consequências inevitáveis ao equilíbrio econômico global.

Dilema para os EUA

A administração Trump se vê diante de um dilema geopolítico e econômico. Por um lado, deseja conter o avanço nuclear iraniano. Por outro, precisa evitar um aumento prolongado no preço do petróleo, que poderia fortalecer a inflação doméstica e prejudicar a recuperação econômica norte-americana.

“Existe um risco claro de que a tentativa de conter Teerã acabe custando caro ao próprio consumidor americano”, afirmou Michael Alfaro, diretor de investimentos do fundo de hedge Gallo Partners. “Se o petróleo ultrapassar US$ 100 e a inflação disparar, o impacto será sentido em Wall Street, nos supermercados e nas urnas.”

Com os mercados tensos e o cenário internacional em ebulição, o mundo observa, apreensivo, os próximos passos no tabuleiro geopolítico do Oriente Médio.

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