Os mercados globais de energia entraram em estado de alerta neste domingo (22), após os Estados Unidos bombardearem instalações nucleares no Irã. O ataque, sem precedentes recentes, impulsionou os preços do petróleo para o maior patamar em cinco meses e elevou as tensões geopolíticas no Oriente Médio, uma das regiões mais sensíveis do planeta no que diz respeito ao abastecimento energético.
O barril do petróleo Brent, referência internacional, chegou a subir 5,7% nas primeiras horas de negociação em Londres, atingindo US$ 80, antes de recuar para uma alta de cerca de 3%, cotado a US$ 79. O West Texas Intermediate, índice norte-americano, também registrou valorização semelhante, sendo negociado a US$ 76,83.
Analistas alertam que a tendência para os próximos dias dependerá da resposta do Irã. O país, já envolvido em conflitos indiretos com Israel e outras potências regionais, prometeu retaliar caso os EUA se envolvessem diretamente na guerra. Agora, com a entrada efetiva dos americanos, especialistas temem ataques a infraestruturas petrolíferas ou a embarcações comerciais no estratégico estreito de Hormuz.
“Uma clara linha vermelha foi cruzada”, afirmou Jorge León, chefe de análise geopolítica da consultoria Rystad Energy. “Este é o primeiro ataque direto dos EUA ao território iraniano. A depender da resposta, podemos ver o petróleo ultrapassando os US$ 100 ainda neste trimestre.”
Cerca de 30% do petróleo transportado por via marítima passa diariamente pelo estreito de Hormuz, que separa o Irã dos estados do Golfo Pérsico. Qualquer interrupção nesse fluxo representa um risco imediato ao abastecimento global de energia e à estabilidade econômica de diversos países importadores.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que “novos ataques serão inevitáveis” caso Teerã não recue, mas o governo iraniano tem adotado um tom firme. Líderes religiosos e militares iranianos já sinalizaram uma possível ofensiva contra navios americanos e aliados no Golfo.
O editor-chefe do jornal iraniano Kayhan, com forte influência dentro do regime, chegou a defender publicamente que o Irã bloqueie o estreito de Hormuz e impeça a circulação de navios ocidentais. Analistas, no entanto, avaliam que o fechamento total da via é improvável, devido à presença da Quinta Frota Naval dos EUA no Bahrein.
Ainda assim, segundo Helima Croft, ex-analista da CIA e atual estrategista da RBC Capital Markets, o Irã dispõe de capacidade militar para danificar navios petroleiros e portos estratégicos usando mísseis e minas marítimas. “Mesmo sem um bloqueio total, ações pontuais já seriam suficientes para causar impactos severos nos preços da energia”, explicou.
O Irã exporta atualmente cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia. Entretanto, aproximadamente 21 milhões de barris provenientes de seis países — incluindo Arábia Saudita, Iraque e Emirados Árabes Unidos — atravessam diariamente o estreito de Hormuz. A interdição dessa rota poderia desencadear uma nova crise energética mundial.
Os efeitos da escalada vão além do setor energético. A alta do petróleo pressiona os preços de combustíveis como gasolina e diesel, elevando os custos de transporte e produção em cadeia, o que pode reacender o fantasma da inflação global. Economistas já projetam efeitos indiretos no consumo, nos juros e no crescimento econômico.
“A entrada dos EUA adicionou uma camada extra de volatilidade aos mercados de energia. Todos estão de olho no próximo movimento do Irã”, afirmou León, da Rystad.
O Ministério das Relações Exteriores do Qatar divulgou nota alertando que a “tensão perigosa” pode resultar em “repercussões catastróficas para a segurança regional e global”. Já a Arábia Saudita, aliada dos EUA e principal exportadora mundial de petróleo, declarou estar acompanhando os desdobramentos com “grande preocupação”.
Segundo analistas da S&P Global Commodity Insights, o impacto imediato nos preços pode ser contido caso o Irã adote uma estratégia mais cautelosa e não haja retaliação imediata. “A pergunta-chave agora é: o que vem a seguir?”, disseram James Bambino e Richard Joswick, da S&P. “O Irã recorrerá a ataques diretos? Interromperá suas exportações? Visará navios no estreito?”.
Ainda que estoques globais e a capacidade de resposta da Opep+ ajudem a mitigar uma crise de abastecimento a curto prazo, os especialistas alertam que um conflito prolongado no Oriente Médio trará consequências inevitáveis ao equilíbrio econômico global.
A administração Trump se vê diante de um dilema geopolítico e econômico. Por um lado, deseja conter o avanço nuclear iraniano. Por outro, precisa evitar um aumento prolongado no preço do petróleo, que poderia fortalecer a inflação doméstica e prejudicar a recuperação econômica norte-americana.
“Existe um risco claro de que a tentativa de conter Teerã acabe custando caro ao próprio consumidor americano”, afirmou Michael Alfaro, diretor de investimentos do fundo de hedge Gallo Partners. “Se o petróleo ultrapassar US$ 100 e a inflação disparar, o impacto será sentido em Wall Street, nos supermercados e nas urnas.”
Com os mercados tensos e o cenário internacional em ebulição, o mundo observa, apreensivo, os próximos passos no tabuleiro geopolítico do Oriente Médio.